Sinopse
A Família Trançapé – Uma paródia da célebre família Buscapé,
com enredo inverso. Neste caso, os caipiras é que são visitados por gente da
cidade grande, mostrando que a falta de conhecimento sobre certos assuntos
existem de ambos os lados. É o conto de abertura do livro República de Patetas,
o segundo da série que batizei de “Trilogia do Riso”. Segue a linha do humor
desconcertante, com episódios protagonizados por personagens impagáveis. Link
do livro:
Trecho
“...É, alvo constante de enchentes homéricas, a Capital bandeirante
mandava para minha casa, uma trupe de flagelados que não seria fácil de
suportar: tio Atanásio, tia Abelarda e seus oito filhos: Ibirapuero,
Morumbildo, Sumaréco, Jabaquaro, Osasca, Cambucino, Uóchintom Quénide
(homenagem à Capital e ao presidente dos EUA) e Atanásio Jr (o caçula, 35
anos). Todos solteiros.
Nossa casa virou um
balaio de gatos. “Será por poucos dias”, dizia tio Atanásio, ao mesmo tempo, já
esparramado no sofá da sala, com uma latinha de cerveja na mão, como se
estivesse na sua casa. Tia Abelarda, com os seus 140 quilos, tomou posse da
cozinha. Toda comida que fazia, escorria rios de óleo. Era um festival de
colesterol. Minha mãe não vencia lavar pratos. Meu pai alugou beliches em uma
loja de cacarecos. Iriam dormir na edícula? Que nada! Meu pai colocou um
beliche no quarto dele, onde dividiu o espaço com o tio e a tia. E como só
havia mais dois quartos (um de empregada), colocou os primos comigo num quarto
e no outro, a prima Osasca (exigência da tia Abelarda, pois a sua queridinha
não aceitava dividir o espaço com ninguém).
Minha vida virou um inferno. Se antes
eu não aceitava a ideia de dormir alguns dias junto com o tio Atanásio, teria
eu que dividir o meu quarto com sete marmanjos. Cada um com esquisitices
diferentes dos outros. Ibirapuero não dormia com as luzes apagadas, Sumaréco
com as luzes acesas. Jabaquaro cantava o Hino nacional dormindo, Uóchintom,
também dormindo, corrigia os erros do irmão (acordado já é difícil cantar o
Hino...). Morumbildo puxou o pai: os trincos que tem na parede do meu quarto
até hoje, são oriundos dos roncos dele. Outro que puxou o pai foi Atanásio Jr;
na flatulência. O ordinário não tinha o menor pudor em soltar um daqueles
insuportáveis fedendo repolho estragado, até na frente da pobre da minha mãe.
Passei a dormir com um sabonete de vinólia fixado com fita adesiva no nariz...”
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